Dica de Redação

Professores e instituições respondem às dúvidas frequentes sobre a prova de redação

Equipe RND
Escrito por Equipe RND em 17 de fevereiro de 2020
Professores e instituições respondem às dúvidas frequentes sobre a prova de redação

Texto publicado originalmente na Revista Língua (2010) | adaptado

Diante da folha em branco, com a urgência do relógio e a tensão de estar concorrendo com milhares de pessoas, pode parecer uma tarefa difícil manter a calma, raciocinar e ainda escrever com estilo para sair-se bem na prova de redação de vestibulares ou concursos.

Porém, observar algumas dicas de professores e especialistas ligados aos principais processos seletivos e instituições de ensino superior do país pode ajudar a conquistar mais pontos naquela que é, muitas vezes, a peça mais valiosa da prova.

Embora a redação “nota 10” seja aquela que reúna, de modo geral, um raciocínio coerente dentro do tema proposto, com coesão textual e bom uso da língua, algumas questões parecem preocupar mais os candidatos do que os próprios professores. Um exemplo é em relação aos erros de Português. Desde que não influencia na compreensão do texto como um todo, escorregar em uma vírgula, em uma regência ou mesmo na ortografia não compromete a nota.

– O “erro de português” pesa mais quanto mais interferência tiver para os sentidos pretendidos pelo autor do texto – afirma Ana Lima, do departamento de Letras da Universidade Federal de Pernambuco.

Planejar o texto antes de escrever é outra dica importante: montar uma “estratégia” é fundamental para conseguir produzir um texto dentro do prazo estabelecido.

Leia também: Como planejar a sua redação
Leia também: A elaboração do texto dissertativo

Além disso, ler muito pode ajudar o candidato a ir bem na prova, mas ainda não é o suficiente. Também é preciso praticar a escrita, afirma Maria Teresa Fraga Rocco, diretora da Fuvest.

– É preciso escrever muito, pelo menos três vezes por semana – ressalta Maria Teresa.

A seguir, especialistas em redação e representantes de instituições de ensino do país respondem a dúvidas comuns entre os candidatos.

1. O que caracteriza uma redação nota 10?

Lílian Ghiuro Passarelli, vice-coordenadora do curso de Letras: Licenciatura em Português, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
Não há fórmula para esse tipo de empreitada, claro, mas se nos propusermos a levantar algumas expectativas da banca corretora, podemos indicar que atender à proposta, tendo em conta todas as orientações além das que indicam o tema, é um ponto-chave. Mas também a clareza e a objetividade com que as ideias são verbalizadas no papel, revelando raciocínio lógico-verbal coerente, sem dúvida, é outro ponto importantíssimo.

Leonor Werneck dos Santos, professora de língua portuguesa, leitura e redação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Uma redação nota 10 aborda o tema com coerência, num texto coeso, sem fuga ao tema ou à tipologia pedida (por exemplo, dissertação argumentativa).

Fundação Vunesp
Uma redação nota dez deve abordar com inteligência e sensibilidade o tema proposto e não apresentar deslizes de coesão textual, nem lapsos de ordem gramatical e ortográfica.

Ana Lima, professora do Departamento de Letras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Uma redação excelente é, primeiramente, aquela por meio da qual o candidato demonstra ter compreendido a proposta temática apresentada, além disso, ela deve ser informativamente relevante e, do ponto de vista linguístico, cumprir as exigências de clareza, objetividade e, finalmente, de correção linguística. Mas é importante lembrar que, no caso da avaliação das redações do vestibular da UFPE, uma “redação nota 10” nem sempre é aquela que está perfeita do ponto de vista da “correção gramatical”.

Maria Teresa Fraga Rocco, diretora da Fuvest
Essa é uma questão muito relativa, pois nem sempre uma redação excelente é “nota 10”. A correção é feita por uma dupla e pode haver divergência. Uma redação excelente é aquela que atenda o que foi pedido, use argumentos sólidos, seja coerente e coesa e, principalmente, não fuja do tema e obedeça ao discurso pedido. O domínio da escrita de uma redação só é adquirido fazendo. Nem sempre quem lê muito escreve bem, não é automático. Tem de escrever muito, pelo menos três vezes por semana.

Carlos Copia, diretor de operações da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP)
A prova de redação da FGV-SP tem uma especificidade: avalia conhecimentos de fatos históricos ou geográficos, sempre em conexão com a realidade atual. Então, o aluno precisa apresentar esses conhecimentos específicos, além de escrever de forma clara, correta, concisa, coerente e demonstrar capacidade de argumentação. No caso das demais provas de redação dos vestibulares da FGV-SP, a redação contempla todos os quesitos acima relacionados, com exceção do conhecimento específico de fatos históricos ou geográficos, já que não tem por objetivo avaliá-los.

2. Como organizar o tempo da prova para que não seja curto?

Lílian Ghiuro Passarelli
Creio que o grande diferencial de qualquer produção textual seja o planejamento do texto. Escrever de acordo com o que vem à cabeça nem sempre implica uma produção de qualidade. Se o candidato organiza suas ideias (diretamente) no papel, antes de dar início à produção textual propriamente dita, ele pode se perder. Ao contrário do que alguns consideram como pura perda de tempo, planejar é economizar tempo.

Leonor Werneck dos Santos
Sugiro que o candidato faça uma lista dos tópicos que pretende abordar no texto, deixando bem claro seu ponto de vista. Depois, releia os tópicos, eliminando ou incluindo outros e procurando organizá-los na ordem em que aparecerão no texto (em parágrafos). Só então o candidato deve redigir o rascunho e, ao final, passar a limpo, revisando o que escreveu.

Fundação Vunesp
Isso depende de cada candidato. Não há uma receita milagrosa. Cada candidato deve preparar-se para a prova simulando situações reais, como, por exemplo, fazendo a prova do vestibular anterior e verificando o tempo médio que leva para resolver as questões e o que resta para fazer a redação. Com base nesses dados objetivos pode programar-se com mais eficácia para a prova.

Ana Lima
Geralmente, o tempo dado em concursos e vestibulares para a elaboração do texto escrito é de duas horas [para o caso das provas com 5h de duração]. Isso é tempo suficiente para o candidato demonstrar sua competência para essa atividade. Mas é importante que ele organize o tempo de que dispõe, para não ser traído pelo relógio. Eu diria que, em primeiro lugar, o candidato deve traçar uma espécie de “esquema”, de plano global do texto a ser elaborado. Isso deve durar cerca de 15 a 20 minutos. A elaboração do texto em si, no rascunho, deve durar cerca de uma hora. Os cerca de 40 a 45 minutos restantes devem ser utilizados para passar o texto do rascunho para a versão final (…) e, por fim, para uma última leitura, que deve funcionar como uma revisão final.

Leia também: Como lidar com o tempo durante a prova de redação

Maria Teresa Fraga Rocco
Acredito que o tempo da prova é suficiente. O aluno precisa apenas se organizar.

Carlos Copia
Gosto da ideia de o aluno desenvolver um rascunho breve sobre os pontos principais a serem desenvolvidos, o que não significa ter de escrever tudo para depois passar a limpo; nem, por outro lado, desenvolver uma redação de forma “esquemática”, o que às vezes ocorre. Significa pontuar a ideia central a partir de alguns pontos que nortearão a escrita e permitirão um raciocínio mais fluido.

3. Qual o peso do erro de português?

Lílian Ghiuro Passarelli
Quando o erro referente ao emprego da norma culta não interfere na compreensão global do texto, não há tanto problema. Mas erros que comprometam o sentido, mesmo que localizadamente, esses já comprometem mais.

Leonor Werneck dos Santos
Desvios em relação à norma culta geralmente comprometem a redação se forem em número elevado ou se demonstrarem profundo desconhecimento da língua portuguesa. Os problemas formais mais graves costumam ser de pontuação e de frases truncadas, porque comprometem a coesão do texto.

Fundação Vunesp
O mais importante numa prova de redação é o texto como um todo, aquilo que a Linguística Textual denomina “textualidade”. Lapsos de ordem gramatical ou ortográfica não inviabilizam uma redação que se apresente, no todo, como um texto bem planejado e elaborado.

Ana Lima
Cada banca avaliadora adota critérios próprios de avaliação de textos escritos. No caso da UFPE, o “erro de português” (que estou entendendo como desvio da norma gramatical) pesa mais quanto mais interferência tiver para os sentidos pretendidos pelo autor do texto. Ou seja, há pequenos desvios que em nada prejudicam o sentido global do texto e, por isso, seu peso na avaliação é pequeno. Outros desvios, no entanto, interferem bastante no sentido global que o autor pretendeu transmitir e têm, por isso mesmo, um peso maior na avaliação.

Maria Teresa Fraga Rocco
Depende do erro. Houve erro de regência, colocou uma vírgula optativa? Isso é o que menos nos preocupa. Mas há aqueles erros que complicam o entendimento do texto, como alguns erros de concordância, isso vai pesar sim.

Carlos Copia
Depende do erro. O erro gramatical é um dos pontos avaliados. Muitas vezes uma redação que seja bem escrita, clara, coesa, coerente, mas com pequenos deslizes gramaticais, não perderá tantos pontos quanto uma outra redação cujo problema é mais de ordem estrutural, de incapacidade de desenvolver uma ideia com coerência e capacidade de argumentação, embora sem apresentar erros gramaticais.

4. O que pesa mais: o raciocínio ou o estilo?

Lílian Ghiuro Passarelli
Costumo usar uma metáfora para explicar a meus alunos de graduação e de pós que, em situações formais, o “pretinho básico” é o que costuma funcionar sem sustos, por isso, o raciocínio lógico-verbal com coerência se sobrepõe ao estilo, se entendermos aqui que estilo se refira ao registro, ao modo mais ou menos formal com que o candidato se expressa, ou mesmo ao modo típico com que um grupo se expressa e que esteja distante do que se tem como expectativa na proposta da prova.

Leonor Werneck dos Santos
O que pesa mais é a organização lógica e coerente do texto, dentro da proposta da prova.

Fundação Vunesp
Depende do exame vestibular. No caso do vestibular da Unesp, sempre é solicitada redação de gênero dissertativo. Neste caso, o que vale mais é a capacidade de argumentação do candidato para demonstrar a opinião que assume.

Maria Teresa Fraga Rocco
O estilo está presente naquele aluno que tem um bom texto, mas nisso está também envolvido o raciocínio, a argumentação. O estilo engloba o raciocínio.

Carlos Copia
Ambos são importantes, pois são três aspectos gerais a serem avaliados: o desenvolvimento do tema, o estilo e o raciocínio (capacidade argumentativa, por exemplo). Isso se considerarmos o modelo de redação “padrão”. No caso da FGV-SP, como já foi dito, avaliam-se, também, os conhecimentos específicos.

5. O que anula uma redação?

Lílian Ghiuro Passarelli
Fugir totalmente do tema, não atender às orientações da proposta quanto ao texto solicitado, apresentar recadinhos ao corretor (muitos justificam por que não conseguiram escrever segundo a proposta) são os casos mais típicos para ser anulada a prova de redação.

Leonor Werneck dos Santos
Fugir totalmente ao tema ou à proposta da redação, ou demonstrar despreparo total, por exemplo, fazendo desenhos ou escrevendo uma carta-desabafo sobre sua dificuldade de escrever. Pode parecer estranho, mas há quem faça isso.

Fundação Vunesp
Nos exames vestibulares da Unesp, o que pode anular uma redação é a não observância do tema proposto e do gênero (dissertativo). Pode ser anulada também a redação que se revelar cópia de texto literário, jornalístico ou mesmo de texto apresentado na prova como auxiliar.

Ana Lima
Os critérios para que uma redação seja anulada são apresentados com muita clareza no manual do candidato, que deve ser lido com bastante atenção por todos os envolvidos nos exames vestibulares. Em geral, atribui-se a nota zero aos seguintes casos:
a) texto que não atende à proposta temática apresentada (fuga total ao tema);
b) texto que não atende ao gênero solicitado;
c) texto que é comprovadamente plágio;
d) texto que está totalmente ilegível;
e) texto que foi escrito em outra língua que não seja a língua portuguesa.

Maria Teresa Fraga Rocco
A redação é anulada quando foge muito do tema ou o candidato resolve fugir do discurso pedido e faz uma narrativa ou um poema – nestes casos, é zero. Não que ele não possa incluir um trecho de poesia ou narração, mas não pode ser predominante.

Carlos Copia
Sair totalmente do tema ou não obedecer aos critérios rigidamente estabelecidos no enunciado da prova (por exemplo: não atender ao número máximo ou mínimo de linhas).

6. Posso usar gírias e linguagem coloquial?

Lílian Ghiuro Passarelli
Muitas vezes, o efeito de sentido obtido pelo uso de uma gíria pode ser bem mais expressivo. Se o candidato apresenta um bom texto, o uso de uma ou outra gíria não prejudica. Mas, como dizem pertinentemente os antigos, todo cuidado é pouco. O excesso de termos gírios com um texto não tão bom, aí sim há maior indício de que o texto não será bem avaliado. Isso também vale para o emprego de expressões coloquiais. É bom evitá-las, especialmente se na proposta houver algum tipo de orientação quanto ao uso do registro. Na verdade, se o emprego não for feito com parcimônia, tanto o uso de gírias como o de expressões coloquiais pode ser indício de que o candidato não tem um léxico razoável e se vale desses recursos por não dispor de outros.

Leonor Werneck dos Santos
O mais importante ao escrever é adequar a linguagem aos propósitos do texto. Porém, mesmo que o texto não “peça” uma gíria ou um registro mais informal, se ele estiver bem redigido não é isso que vai prejudicar a qualidade da redação.

Fundação Vunesp
No exame vestibular da Unesp solicitam-se o gênero dissertativo e a norma culta. O candidato deve evitar, portanto, o discurso coloquial e as gírias.

Ana Lima
As características de linguagem devem ser adequadas às exigências do tipo e do gênero textual solicitados. Na maioria das instituições do país, solicita-se um texto dissertativo-argumentativo, geralmente um “comentário opinativo” ou “ensaio”. Para esses textos, gírias e linguagem coloquial devem ser utilizadas com muito cuidado, apenas se forem textualmente adequadas.

Maria Teresa Fraga Rocco
Desde que seja um uso muito criativo, mas, em geral, não deve usar. A linguagem coloquial não está abrangida no texto dissertativo, que exige a linguagem culta.

7. Posso citar trechos da coletânea ou do enunciado?

Lílian Ghiuro Passarelli
Claro que se pode citar trechos da coletânea ou do enunciado, desde que estejam incorporados com coerência no texto e que sejam aproveitados para o candidato desenvolver e manifestar suas próprias ideias. Se a citação for literal, o mais indicado é colocar entre aspas o trecho recuperado e mencionar o autor.

Leonor Werneck dos Santos
Isso depende da orientação da banca na prova.

Fundação Vunesp
As propostas de redação dos vestibulares da Unesp sempre estão associadas a texto ou textos apresentados para as questões. Além disso, por vezes são acrescentados mais textos auxiliares. O candidato, desse modo, pode basear-se nesses textos, bem como no próprio enunciado da proposta. Basear-se, todavia, não significa copiar literal e integralmente. Se achar necessário, o candidato pode fazer citações, sinalizando com aspas. Pode também fazer citações de qualquer texto (literário, jornalístico, filosófico, científico, técnico etc.) não apresentado na prova, mas também neste caso deve marcar as citações entre aspas e indicar o autor. Ser autêntico e original é o melhor conselho que se pode dar a este respeito.

Ana Lima
Novamente, valem as regras da “adequação”. Nada impede que se façam citações, desde que elas estejam a serviço de alguma intenção comunicativa e sejam textualmente adequadas.

Maria Teresa Fraga Rocco
Não só pode utilizar como deve. Mas essa citação precisa ser usada de forma criativa, e não apenas uma paráfrase. A citação é um complemento.

Carlos Copia
Não é proibido, mas como há um espaço pequeno para o desenvolvimento da redação, não convém repetir o que já está no enunciado, pois pode indicar que o aluno não tem repertório próprio para o desenvolvimento da sua ideia. Isso, certamente, prejudicará a sua pontuação.

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